29 de out. de 2012


Não é comum observarmos uma abordagem das ciências econômicas sobre a questão dos agrotóxicos. O que predomina na literatura, normalmente, serve mais para demonstrar a eficiência desses produtos e do modelo agrícola que incorpora essa“modernidade”. Poucos são os trabalhos que abordam, revelam e discutem a questão da ineficiência desses produtos, impactos ambientais gerados e as consequências que o uso desses produtos causa a nossa saúde que estes causam.
Em relação aos agrotóxicos, o modelo de agricultura baseado no uso intensivo desses insumos também exige grande resiliência dos ecossistemas, pois, além da poluição química, tal modelo se apoia amplamente no aumento de produtividade baseado em plantações de uma única espécie, eliminando a biodiversidade local.
A questão é que modelos agrícolas hoje são baseados em monoculturas e na ampla simplificação de biodiversidade somente se sustentam à custa do uso excessivo de agroquímicos. No entanto, seus impactos não podem ser vistos como fatos isolados em um sistema econômico, tampouco ecológico. Consequentemente, não há sustentabilidade quanto ao uso dos agrotóxicos, pois a sua necessidade aumenta cada vez mais, provocando um maior desequilíbrios, como uma espécie de ciclo vicioso. Podemos citar como exemplo, que entre 1940 e 1984 as perdas das culturas por ataques de insetos, nos EUA, aumentaram de 7% para 13%, enquanto o uso de pesticidas aumentou 12 vezes.
No Brasil, agrotóxicos começaram a se popularizar em plena segunda guerra mundial, quando o mundo conheceu uma revolução no que diz respeito ao controle de pragas na agricultura, o DDT. Esse produto ficou rotulado como de baixo custo e eficiente, o que muito ajudou que se fosse amplamente utilizado antes que seus efeitos nocivos tivessem sido totalmente pesquisados. O grande sucesso desse produto no combate às pragas fez com que novos compostos organossintéticos fossem produzidos, fortalecendo a grande indústria de agroquímicos presente nos dias de hoje. O crescimento do uso desses insumos químicos somados a um processo de desenvolvimento e difusão de variedades modernas com elevada capacidade de aproveitamento desses produtos ficou conhecido como a “revolução verde” (Bull & Hayhaway, 1986).
Em 2008, o Brasil tornou-se o principal mercado consumidor de agrotóxicos, ficando à frente dos EUA, consumindo 733,9 milhões de toneladas (Sindag, 2009). Esse volume pode ser considerado como um verdadeiro “tsunami” na agricultura brasileira, tanto nos aspectos de impactos ambientais, como também em danos à saúde e, consequentemente, os socioeconômicos ainda se encontram “invisíveis”perante a sociedade em geral.
No entanto, o despertar para o reconhecimento dos efeitos nocivos dos agrotóxicos se deu a partir de 1962, com a obra “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, que trouxe à tona os efeitos adversos da utilização dos pesticidas e inseticidas químicos sintéticos, particularmente sobre o uso do DDT: penetrava na cadeia alimentar e acumulava-se nos tecidos gordurosos dos animais, inclusive do homem, aumentando o risco de causar câncer e danos genéticos; não só atingia as pragas, mas um número incontável de outras espécies, silenciando pássaros, peixes, até mesmo crianças; permanecia tóxico no ambiente mesmo com sua diluição pela chuva, sendo que as espécies contaminadas poderiam migrar para outros ambientes, levando os possíveis riscos de contaminação para alvos bem mais distantes que sua origem.
Pode-se dizer que esse estudo foi um marco na desmistificação do milagre da ciência em prol da agricultura, pois transferiu o debate restrito à academia para a sociedade em geral, iniciando um processo que culminou na necessidade de controle e regulação desses produtos, bem como a fabricação de substâncias menos agressivas ao homem e ao seu meio ambiente. Isso ficou claro com o passar dos anos, com o surgimento de vários problemas ambientais e de saúde associados ao uso dos agrotóxicos.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o uso intenso de agrotóxicos levou à degradação dos recursos naturais (solo, água, flora e fauna), em alguns casos de forma irreversível, levando a desequilíbrios biológicos e ecológicos.
Além de agredir o ambiente, a saúde também pode ser afetada pelo excesso destas substâncias. São inúmeros os estudos que associam o uso de agrotóxicos e seus efeitos nocivos na saúde humana. Entre esses podemos citar problemas oculares, no sistema respiratório, cardiovascular, neurológico, entre outros.
Assim nota-se que da mesma forma em que a revolução verde gerou resultados positivos para a agricultura mundial, trouxe também diversas consequências negativas, pois seu objetivo é meramente a produtividade, deixando de lado o equilíbrio ecológico, tais como: a estabilidade dos sistemas agrícolas: a conservação dos recursos naturais e a qualidade dos alimentos. Ou seja, afetando diretamente o meio ambiente e consequentemente afetando a nós.

Uma alternativa seria, por exemplo, a agricultura orgânica, que tem o objetivo de aumentar e sustentar as interações biológicas nas quais a produção agrícola está baseada, ao contrário de reduzi-las e simplificá-las. Outra seria em relação ao papel do consumidor, estes com um pensamento mais responsável, assim os consumidores seriam agentes fundamentais para uma mudança, pois ao exigirem um produto mais limpo e isento dos danos a sua saúde (como os agrotóxicos) contribuiriam não só para a sua própria saúde, mas também à das futuras gerações.
Referências: “Uso dos agrotóxicos e seus impactos à saúde e ao ambiente: uma avaliação integrada entre a economia, a saúde pública, a ecologia e a agricultura” - de Wagner Lopes Soares - Março de 2010.
Sugestão: Filme - O Mundo Segundo a Monsanto
Publicado por: Patrícia Ziani

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