Conflitos Ambientais
Os Conflitos
Ambientais contribuíram para o renovado esforço de superação
da dicotomia natureza-sociedade a partir das ciências sociais críticas.
Re-introduz a análise política na ecologia, na medida em que não se preocupa, a
partir de uma visão administrativa reducionista.
A pergunta
que se faz é:
Para que
fins se destinam os recursos naturais?
A que
projeto de sociedade eles servem?
Essas são
perguntas urgentes tendo em vista as desigualdades no acesso aos recursos dos
territórios e a má distribuição dos riscos ambientais impostos por projetos
homogenizadores do espaço, os quais são guiados por um modelo de
desenvolvimento exportador de recursos naturais. Esse modelo, mesmo
incorporando algumas medidas compensatórias e de movimento ambiental, dá
continuidade ao processo historicamente gerador de injustiça ambiental na
medida em que se constrói em detrimento dos pobres e das minorias étnicas,
contribuindo para a perpetuação do subdesenvolvimento do país.
Os Conflitos
Ambientais nos ajuda a compreender esses processos, ao mesmo tempo em que
denuncia a necessidade de um pensamento sociológico crítico e mudanças na
práxis sócio-política com vistas à construção de uma sociedade mais justa e
democrática.
Os conflitos Ambientais tiveram inicio na
década de 80, representam um importante marco histórico e simbólico para as
lutas ambientais. Após a morte de Chico Mendes, em 1988, as idéias de “uso
sustentável da natureza” e da existência dos “povos da floresta” se
consolidaram. Indígenas, ribeirinhos, seringueiros e demais grupos tradicionais
se tornaram protagonistas do “desenvolvimento sustentável”, noção que ganhou
reconhecimento internacional na II Cúpula da Terra, realizada no Rio de
Janeiro, em 1992. Com efeito, foi neste evento que uma centena de países
concordaram sobre a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento assentado
no tripé economia-ecologia-equidade social.
Porém, o discurso sobre o desenvolvimento
sustentável foi sendo, deste então, deslocado daquele sentido pretendido pela
luta dos “povos da floresta” e dos ambientalistas. Para estes, os modos de vida
dos grupos locais – incluindo suas respectivas formas de apropriação material e
simbólica da natureza - representavam um contraponto ao modo de vida da
sociedade urbano-industrial que, nesta concepção, seria insustentável. Mas a
visão política que se consolidou, ao contrário, fez emergir um paradigma que pretende
“adequar” o pleito socioambiental ao modelo clássico de desenvolvimento.
Esta adequação tem sido feita por meio da participação na gestão ambiental e social e por meio das soluções técnicas e de mercado com vistas à conciliação entre os interesses econômicos, ambientais e sociais.
Os conflitos ambientais distributivos
são aqueles relacionados à distribuição desigual dos recursos naturais. Mas os
conflitos ambientais distributivos não se restringem apenas ao nível
discursivo. Há inúmeras situações concretas em que distintos grupos sociais,
para garantir a sua reprodução material, lutam pelo acesso à água potável e
pelo fornecimento de energia com preços justos.
Conflitos ambientais
territoriais
Os conflitos ambientais territoriais
marcam situações em que existe sobreposição de reivindicações de diversos
grupos sociais, portadores de identidades e lógicas culturais diferenciadas,
sobre o mesmo recorte espacial. Nesse sentido, os grupos envolvidos apresentam
modos distintos de produção dos seus territórios, o que se reflete nas variadas
formas de apropriação daquilo que chamamos de natureza naqueles recortes
espaciais.
A condição básica para esta dinâmica
territorial empresarial é a transformação do espaço em unidades de propriedades
privadas que possam ser comercializadas como mercadorias, avaliadas pelo seu
valor de troca e cada vez menos pelo seu valor do uso. Porém, não pode ser negligenciado o papel dos
próprios Estados que, competindo entre si para atrair o capital externo,
facilitam a aquisição de terrenos através da isenção de taxas e impostos ou
disponibilizando terras públicas/devolutas para o setor privado, na forma de
concessões com a finalidade de exercer determinadas atividades econômicas.
Na prática, tal processo reflete-se na
monoculturização ambiental e social do espaço gerando um mosaico de parcelas
territoriais destinadas à produção de matérias-primas inseridas em cadeias de
produção de mercadorias específicas. Surgem aglomerações urbanas com as suas
territorialidades múltiplas (dentro da lógica urbano-industrial capitalista)
que dependem, além das cidades construídas, de áreas destinadas exclusivamente
para a produção de soja, frutas, milho, eucalipto ou áreas da extração de
minérios, produção de energia (hidrelétricas), em redes de fluxos com
abrangência regional, nacional ou mesmo globais, configurando, assim, os
territórios dinâmicos do sistema urbano-industrial-capitalista.
O deslocamento ou a remoção desses
grupos significa, frequentemente, não apenas a perda da terra, mas uma
verdadeira desterritorialização, pois muitas vezes a nova localização, com
condições físicas diferentes, não permite a retomada dos modos de vida nos locais
de origem, sem contar o desmoronamento da memória e da identidade centradas nos
lugares. Assim, as comunidades perdem literalmente a base material e simbólica dos
seus modos de socialização com a conseqüência da sua desestruturação.
Conflitos ambientais espaciais
Os conflitos ambientais evidenciam os
conflitos causados por efeitos ou impactos ambientais que ultrapassam os
limites entre os territórios de diversos agentes ou grupos sociais, tais como
emissões gasosas, poluição da água etc. Desta forma, trata-se de conflitos que
não surgem necessariamente em torno de disputas territoriais entre grupos com
modos distintos de apropriação ou produção do espaço. Ressaltam-se por serem
decorrentes de situações em que as práticas sociais de um grupo provocam
efeitos ambientais negativos que afetam outros grupos através dos fluxos
espaciais, como por exemplo, pelo lançamento de poluentes no ar ou na água e a
contaminação de solos.
O Mapa dos Conflitos do Estado de Minas
Gerais identificou diversos casos de conflitos ambientais espaciais. A título
de exemplo, podemos mencionar o caso do bairro Camargos, em Belo Horizonte,
onde os moradores se organizaram para reivindicar a retirada de uma empresa
incineradora de lixo hospitalar e industrial instalada em um local residencial,
pois sabiam dos problemas de saúde aos quais estavam expostos. Eles
conseguiram, após cinco anos, a retirada da incineradora do bairro. Em
articulação com grupos sociais de outro bairro, o Vale do Jatobá, impediram que
a empresa se transferisse para a região do bairro Barreiro e, posteriormente,
auxiliaram os moradores de Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte,
a banir a incineradora do município.
Apesar dos limites reais de toda
classificação, uma tipologia dos conflitos permite, para fins analíticos, certa
visualização quanto à forma e à
profundidade do enfrentamento entre os grupos envolvidos e as possibilidades
reais da sua conciliação ou solução. É necessário mencionar, pois, a existência
de uma dinâmica dialética entre os conflitos ambientais territoriais, espaciais
e distributivos, que, na prática, podem ocorrer em simultaneidade.
Do ponto de vista das soluções, pode-se
afirmar que no caso de conflitos mais tipicamente espaciais, questões relativas
à poluição/contaminação, por exemplo, podem muitas vezes ser solucionadas
através de meios técnicos, dentro da lógica da modernização ecológica
(substituição de produtos cancerígenos, instalações de filtros ou técnicas de tratamento
de água/esgoto etc.).
Em todas as regiões do estado mineiro
foi possível conhecer, registrar e
compartilhar diversos casos e situações de conflitos ambientais. Percebeu-se,
entretanto, que cada local é marcado por particularidades, sendo que entidades
e movimentos sociais envolvidos em conflitos convivem com características
físicas, geográficas, políticas, econômicas e culturais específicas. As
populações atingidas puderam, durante a realização do projeto, compartilhar
suas histórias, que, apesar das especificidades, têm traços e desafios comuns,
incitando a reflexão sobre caminhos alternativos para a superação de situações
sociais marcadas pela injustiça ambiental.
Postado por: Ismael Luiz Hoppe
A postagem está interessante, mas completamente fora do tema que tínhamos para esta semana, sobre problemas ambientais no campo. Há no teu texto dois tipos de fonte, o que significa que algo pode ter sido copiado e colado sem identificação da autoria. O exemplo de Minas gerais aparece meio solto na tua postagem, sem que se consiga entender muito bem qual é o sentido disso. De onde vem a informação?
ResponderExcluir